terça-feira, 26 de maio de 2009

JÚLIO DINIS

Ovar
É preciso salvar-se a casa onde viveu Júlio Dinis
Era com este título que Waldemar Lima publicava um texto seu no jornal ‘João Semana’, de 23 de Outubro de 1971, inserido nas comemorações do centenário da morte do ilustre escritor Júlio Dinis. Constituíram um grande sucesso as comemorações promovidas pelo Museu de Ovar, com o patrocínio da Câmara Municipal local.Na passagem do 136º aniversário da morte de Júlio Dinis — ocorrida em 12 de Setembro de 1871, na Rua Costa Cabral, no Porto, com 31 anos de idade — por que não trazermos à memória colectiva o centenário do seu falecimento, em ligação com o presente, em homenagem a este grande vulto da literatura portuguesa (…), que viveu dentro dos seus muros e imortalizou nas ‘Pupilas’ e na ‘Morgadinha’ algumas figuras vareiras.Júlio Dinis foi, também, como sua mãe e irmãos, uma das vítimas mortais da tísica, doença que assolou o século XIX.É, ainda, do ‘João Semana’, no relato destas comemorações: (…) “Por volta das 10 horas (de 12 de Setembro de 1971), no jardim dos Campos, junto do monumento e a poucos metros da casa onde passou algum tempo entre nós, realizou-se uma sessão, foi palestrante o sr. Dr. Eduardo Lamy Laranjeira, onde, finda a apreciada conferência, seguiu-se uma visita à casa, onde Júlio Dinis viveu, que ainda mantém, na quase totalidade, o mobiliário de então, religiosamente conservado.Associando-se às comemorações do centenário, o Rotary Clube de Ovar, numa reunião que decorreu com muito entusiasmo e bem participada, foi sublinhada uma passagem de Júlio Dinis, numa carta que, lamentavelmente, se perdeu, mas registada na memória da prima Maria Zagalo, sobre a sua passagem por aquela casa e Ovar como “os quatro meses mais felizes da minha vida”.(…) Destaque-se, também, a presença de uma bisneta do Dr. João da Silveira, o médico que terá servido de modelo ao romancista para a figura do ‘João Semana’ nas ‘Pupilas’.Seguiu-se uma brilhante conferência, proferida pelo palestrante da noite, o sr. Dr. José Macedo Fragateiro, que falou do brilhante escritor, cujo centenário se comemorava. Como diria Waldemar Lima, ao ‘João Semana’, “Ovar orgulha-se de ter estado aqui mais que uma vez o insigne romancista, ter sido a terra-berço do seu muito ilustre pai José Joaquim Gomes Coelho, em 22 de Agosto de 1802”. (…) Já há anos o ilustre Professor da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Dr. António Cruz, apoiava (como já o fizera em 1924 o Professor Dr. Egas Moniz e, posteriormente, Manuel Cascais de Pinho, entre outros), a transformação daquele pequenino ‘solar’ na Casa-Museu Júlio Dinis. Todavia, este e outros apelos goraram-se, ou, como diria também o Dr. João de Araújo Correia, “em Ovar, aquela casinha de porta e janela no antigo largo dos Campos, onde Júlio Dinis esteve a ares e onde escreveu, como quem pinta do natural os prinicipais quadros das ‘Pupilas’, ainda hoje se pode visitar. Mas está segura, para todo o sempre a cama e a casinha?”A Casa-Museu Júlio Dinis, inaugurada em 1996, está desde Janeiro de 2004 encerrada ao público, para “obras de remodelação” e assim permanece, com todas as sequelas daí resultantes.É bom lembrar de que, sobre o processo da definição da casa, a Câmara Municipal de Ovar, na presidência de Guedes da Costa, soube conduzir em franco diálogo as negociações com os proprietários, que se traduziram na doação da ‘casa’ e parte do seu recheio à Câmara, estando a Casa-Museu Júlio Dinis à disposição do público desde 1996.Depois do êxito alcançado com a atitude nobre da doação da ‘casa’, é de esperar o que, com o mesmo espírito de diálogo entre a Câmara, com os actuais proprietários, resultem na doação do terreno anexo e o início das obras da projectada remodelação da Casa-Museu Júlio Dinis (…), onde todos terão ocasião de recordar o homem que se deixou prender por esta terra vareira e, com a sua caneta de ouro, teceu os elogios da sua gente e contou as belezas naturais.Fatalmente, somos um povo sem memória e tendemos a desconsiderar o que é nosso, é preciso não esquecer, contudo, que a relação de Ovar com esta casa sempre foi complicada: olhamos para trás e reparamos nos anos que foram necessários até à inauguração em 1996. (…) Júlio Dinis foi simples, foi inteligente, foi puro. Trabalhou, sonhou, criou, morreu – o seu espírito vive, é imortal na memória dos homens. Que os vareiros saibam honrar a sua memória, como Júlio Dinis soube amar Ovar.António Ferreira Valente (Ovar)

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